Não confundir "pena" com "compaixão"
Não confundir “pena” com “compaixão” nem “sentimentalismo” com “sentimento”. “Então isso não é tudo a mesma coisa?”, poderás perguntar. Mão, não é. “Pena” nada tem a ver com “compaixão” e “sentimentalismo” é algo muito diferente de “sentimento”. Mais uma vez temos de dizer o seguinte: Devido à distorção da visão 3D, causada pela barreira de frequência que rodeia este planeta e que o manteve de quarentena durante muitos milhares de anos, os Humanos tendem a distorcer as coisas. Imaginemos o Sr. Herlander a levar a sua esposa, Dona Efigénia, à Casa dos Espelhos da Feira Popular: entram, ainda com os churros na mão, e fartam-se de rir ao verem as suas imagens distorcidas nos espelhos. Passam ali um bom bocado. Mas, quando saem para irem jantar sardinhas assadas, não se apercebem que continuam a ver distorcido. Por exemplo: devido à distorção instalada na sua mente Dona Efigénia sente muita pena pelo sofrimento da vizinha de cima – que tem três cancros na mama esquerda e dois no ovário direito. É certo que podia sentir compaixão. Mas não sente porque a sua consciência espiritual ainda não atingiu essa velocidade. Claro, como não dispõe dos espelhos da Feira Popular, não acha graça à situação, e comenta para a vizinha de baixo: “Coitada, o que ela tem sofrido. Mas Jesus também sofreu”. Ou seja, não se apercebe que não está a ver a coisa com os olhos do seu Anjo Dourado. Esperamos sinceramente que, ao contrário da Dona Efigénia, tu já saibas que há outros tipos de espelhos para além daqueles feitos de vidro, e que não há coisa mais saudável do que rirmos de nós mesmos, principalmente quando reconhecemos como, nesta Terra, estamos longe de conseguir expressar o EU que realmente somos quando não estamos encarnados. Mas até na vida exclusivamente terrena, por vezes, não conseguimos expressar aquilo que somos terrenamente. Se já participaste numa corrida de sacos, sabes como é divertido não poder usar as pernas e ter que ir aos saltinhos até à meta. Normalmente, acabamos por cair durante o caminho, o que ainda é mais divertido, quer para nós, quer para os outros. Se assim é numa coisa exclusivamente terrena… por que será que não nos divertimos quando se introduz o factor “espiritualidade”? Bom, por crermos que participar numa corrida de sacos não é uma actividade espiritual! Contudo, não podia ser mais espiritual! Afinal, um espírito encarnado na terra decide divertir-se participando numa corrida de sacos! (Este entendimento, evidentemente, só acontece na Terra, ou noutro planeta onde a energia tenha chegado ao ponto de materialização! Tanto quanto se sabe, Sananda não está de bandeira na mão, esperando pelo primeiro Anjo a chegar à meta, aos saltinhos dentro de um saco e sem poder usar as asa…. Que nós achamos que eles têm, mas não têm!) Por conseguinte tu és sempre um espírito! Assim sendo, “percorrer o caminho espiritual”, ou “entregares-te a actividades espirituais”, ou “estares na espiritualidade”, serve precisamente para poderes reconhecer e, portanto chegares a praticar que assim é. Só para isto, e nada mais, serve este livro e os outros: para te ajudar a alterar o comportamento, para poderes exprimir-te como um espírito, uma partícula individualizada da Fonte, transitoriamente encarnado na Terra. Nada mais. “percorrer o caminho espiritual, não é dispores de um grupo de amigos e amigas, que revês e te fazem companhia quando compareces para a meditação marcada… ficando tudo na mesma! A espiritualidade é algo essencialmente prático: tem que se notar a diferença em quem se dedica a ela! Não podes continuar a ir à missa confessares-te e continuares a ser, por exemplo, o mesmo invejoso de sempre, não podes continuar a ir a “reuniões espirituais de meditação” e continuares a ser, o mesmo inseguro de sempre. Por outras palavras, não podes continuar com o mesmo comportamento. Não podes continuar a ter a missa e/ou as “reuniões espirituais de meditação” como rituais vazios e rotineiros, como uma obrigação que deves cumprir para agradar a Deus, no caso da missa, ou a quem coordena o grupo, no caso de “reuniões espirituais de meditação”. Repetindo: tu és sempre um espírito… embora possas demonstrá-lo ou não. Isso, porém, só depende de ti, isto é, das escolhas que fizeres. É claro que à Dona Efigénia e ao Sr. Herlander nunca lhes passou pela cabeça que sentarem-se na sanita é tão espiritual como ir à missa: ambas as coisas podem, e devem, ser feitas em louvor a Deus, numa postura interna de gratidão. Portanto a Dona Efigénia sente pena da vizinha de cima porque não se identifica com o sofrimento dela; sente, isso sim, uma reconfortante sensação de alívio por aqueles cancros todos estarem no corpo dela e não no seu. Todavia, esta pena vem forçosamente acompanhada de um medo considerável, já que não pode evitar a hipótese de o seu corpo também vir a entrar em processo de autodestruição… se é que já não entrou! Assim, na pena, temos uma impressão de alívio misturada com uma sensação de medo. Pelo menos. Se Dona Efigénia soubesse o que é compaixão, sentiria imediatamente uma profunda identificação com a vizinha de cima… e jamais diria o que disse à vizinha de baixo. Não é que tivesse de “viver” a dor da doente, mas respeitava-a e amava-a incondicionalmente porque não considerava aquela situação uma desgraça, mas uma oportunidade de crescimento. E rezava para que a vizinha de cima fosse capaz de aproveitar a oportunidade. No caso de acabar por ter que ir ao seu funeral, ficaria em paz, reconhecendo que a vizinha tinha optado por ir “lá acima” preparar-se para voltar muito melhor apetrechada para continuar a sua aprendizagem na Terra. Ou seja, Dona Efigénia não se identifica com o sofrimento alheio. Como vês, vamos parar sempre ao mesmo sítio! No que toca à diferença entre “sentimentalismo” e “sentimento”, estamos perante outra distorção ou, se quiseres, perante um corpo emocional desequilibrado. Segundo nos parece, a chave desta diferença chama-se serenidade. Sim, no sentimentalismo não há serenidade; as emoções estão sempre a transbordar. Tanto assim que cai água pela cara abaixo. Vejamos o caso da vizinha de cima da Dona Efigénia, cujo nome – ainda não o tínhamos revelado, pois só neste momento está a ser chamada à condição de protagonista directa desta narrativa – é Celestina. Esta senhora, viúva recente de 55 anos, 1,60 de altura e 105 quilos de peso, não encara a sua situação do ponto de vista do sentimento, mas sim do sentimentalismo,. Tanto assim que passa a vida a chorar e a lamentar-se. É outra “vítima” das circunstâncias, porque o seu António morreu sem avisar. Não percebe que o descalabro em que sobrevive provém, em grande parte, do seu comportamento ao longo dos anos e da forma como está a reagir ao que lhe aconteceu recentemente. Por sorte, não há muito tempo, encontrou a sua sobrinha Rosa, que tentou explicar-lhe a coisa sob a óptica da metafísica, dizendo-lhe o que se passa no corpo é um reflexo do que ocorre na consciência. E acrescentou: “A tia devia fazer uma revisão profunda da forma como a sua vida estava a decorrer”. Todavia, como seria de esperar, a Dona Celestina não percebeu patavina daquela conversa. Pareceu-lhe que a sobrinha, ou não estava boa da cabeça, ou começara a frequentar alguma ceita esquisita. E suspeitou que aquela lengalenga era uma tentativa de a afastar da Igreja e do andor do Senhor dos Passos, onde acabara por encontrar refúgio. A verdade verdadinha é que sempre sentira fortíssima devoção por aquela imagem, tão bonita, em que Jesus carregava a sua cruz. Se ele dera o exemplo, sofrendo como sofrera, ela teria de seguir-lhe os “Passos” (por isso Ele era o Senhor deles!) e carregar a sua própria cruz, que não tinha comparação com a do Nosso Senhor. Além do mais, aquele paleio da “consciência” parecia-lhe muito complicado. Ela, que via as telenovelas todas, portuguesas e brasileiras, não se lembrava de alguma vez ter ouvido falar naquilo. Portanto, continuou como estava: com cirurgia marcada. E encerrou o assunto dizendo à sobrinha Rosa que não queria voltar a ouvir daqueles assuntos. Se a Dona Celestina estivesse na onda do sentimento e não do sentimentalismo, decerto sentiria a já citada serenidade. Alem do mais, esse espírito proporcionar-lhe-ia as condições para reflectir profundamente sobre a forma como a sua vida estava organizada e a decorrer, sobre o que estava a mais e o que faltava, o que podia der mudado e o que tinha de esperar. Fosse como fosse, tomaria decisões voluntárias, poria a energia a mexer, acabando com aquele marasmo aquele pântano, aquele desencanto, aquela degradação progressiva e inexorável. Não tendo tomado qualquer decisão voluntária, viu-se obrigada a tomar decisões obrigatórias, pois as dores começaram a ser insuportáveis. Ir rojar-se aos pés do Senhor dos Passos até poderia funcionar se Dona Celestina tivesse aceitado as palavras da sobrinha Rosa quando esta lhe disse: “ Tia, tu tens a capacidade e a responsabilidade de participares activamente na tua cura. Quereres apenas curar-te é pouco, mais a mais julgando que a cura virá exclusivamente do exterior.” Mas, como se sentia indefesa e, de alguma forma, condenada por aquela “doença má”, não aceitou o que lhe foi dito. Estava no seu direito. O seu livre arbítrio, decorrente do seu grau de consciência, não deu para mais. Por isso Dona Celestina não tem condições de se sentir saudavelmente. Ora se os seus sentimentos não encontram um caminho saudável de saída, encontram um caminho acidentado chamado sentimentalismo. Não admira que Dona Celestina sinta que tem andado aos trambolhões! Espero que esta “literatura” te tenha ajudado a perceber como se passam as coisas com o comum dos mortais. Serás tu um deles? .. se és, respeito inteiramente que o sejas. Mas não posso deixar de te sugerir que decidas até quando queres continuar com esse jogo. Vitorino de Sousa Cascais, 9 de Setembro de 2005 www.velatropa.com
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